sexta-feira, 5 de março de 2010

Peraxa "ki Tissa" - Isaac Dahan

06/03/2010

O pecado do bezerro de ouro ( maassê haêguel ou chêt haêguel ) pode ser entendido como uma das maiores tragédias espirituais na história do povo de Israel, uma mescla de confusão e absurdo de difícil entendimento, já que não se pode racionalizar o absurdo. Tornou-se um trauma inolvidável, podendo ser considerado como um injusto ato de rebeldia que quase levou ao extermínio do povo de Israel, salvo pela intervenção pessoal e dinâmica de Moisés, conforme relatado em Tetsavê.



Contam nossos sábios que em decorrência de um atraso de seis fugazes horas (o texto da Tora em Ex. 32:1 cita a palavra BOSHESH – atrasado -, que foi dividida pelos comentaristas em BO SHESH – veio às seis -, isto é, seis horas atrasado), ficamos marcados por um dos mais chocantes episódios bíblicos. O povo esperava a volta de Moisés com o raiar da aurora o que, entretanto, só aconteceu por volta do meio-dia, transformando brutalmente a partir daí, o estado de êxtase até então vivenciado pelos signatários do Naassê Venishmá (faremos e ouviremos) bradado em uníssono aos pés do Monte Sinai.



Além da explicação tradicional de que grande parte da culpa deste lamentável acontecimento foi causada pelo Erev Rav, a mistura de gente que se juntou ao povo de Israel quando saíram do Egito e que não conseguiam compreender a concepção monoteísta, já que tudo em sua volta era ligado à idolatria, exercendo concreta influência neste grave desvio de conduta, chamamos também a atenção para o fato de que esta inesperada “ausência” de Moisés, a falta de sua figura carismática, pode ter desencadeado um forte sentimento de vazio interior, já que ele era o líder único que verdadeiramente eles conheciam, onde tinham segurança, pois ainda mantinham em suas lembranças a identidade e dependência do período de escravidão.



Um estado de ansiedade intensa pode trazer atitudes radicais. Situações desta ordem, com um desequilíbrio emocional importante, são próprias para a ação do Yetser Hará, o espírito do mal – Hashem Iatsilenu (D’us nos livre), fazendo o indivíduo trilhar um caminho diametralmente oposto à sua verdadeira origem e valores espirituais. Parece que o povo de Israel caiu nesta astuta armadilha, praticando a idolatria quando ainda eram vivas as recordações dos relâmpagos e trovões que ecoaram na outorga dos Assêret Hadiberot (Dez Mandamentos).



Sucedendo-se ao atraso de Moisés e à onda de desespero e ansiedade daí advindos, o povo, já fragilizado e à mercê do Yetser Hará, sequer pensou que o sucessor, pelo menos transitório de Moisés poderia ser Aarão, sumo sacerdote designado por D’us, que se supunha estar preparado para assumir mesmo que interinamente a liderança de Israel. Nesta linha de raciocínio o caminho escolhido foi a idolatria, bem mais fácil de ser entendida se levarmos em conta que o tempo vivido no Egito os impregnou do paganismo ali praticado.



Outro ponto que aprendemos deste episódio é que o povo naquela ocasião e como muitas vezes até em nossos dias, procurava alguém de fora, rompendo sua linha tradicional, mesmo que fosse apenas um bezerro de ouro, ao invés de escolher alguém deles, com quem estivessem bem mais próximos e familiarizados.



Mais um aspecto que merece reflexão e até poderia interceder em favor daquela geração é que no afã de conseguir um deus eles abdicaram de seu ouro, prata e objetos preciosos com os quais foi feito o ídolo. Em nossas gerações, infelizmente, muitos abdicam de D’us em troca de valores materiais para si mesmos.

SHABAT SHALOM UMEVORACH !

Isaac Dahan

Chazan / Shaliach Tsibur da Comunidade de Manaus



Comitê Israelita do Amazonas
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