quinta-feira, 8 de abril de 2010

PERAXA "SHEMINI" - ISAAC DAHAN

Nesta perashá, ao mesmo tempo em que finalmente é inaugurado o Mishkan (Tabernáculo), que Israel transportaria e cuidaria ao longo de 480 anos até erguer-se o Beit Hamikdash construído pelo Rei Salomão A’H’, vemos a trágica morte dos dois filhos mais velhos de Aarão, os Cohanim Nadáv e Avihú, ao oferecerem um fogo estranho (esh zará) ao Eterno, que não lhes havia sido ordenado.

Para um delito que mereceu a pena capital é importante questionar se estes sacerdotes eram homens justos ou malvados. Está escrito em Midrash Torat Cohanim que eles caminhavam em cortejo atrás de Moisés e Aarão dizendo: “Quando morrerão estes dois anciãos para que nós sejamos os próximos líderes do povo?” Uma acusação grave, desejar a morte de seu pai e de seu tio. Já no Midrash Esther Rabá está relatado que eles tomaram vinho antes de entrar no Kodesh Hakodashim (Santuário). Estavam, portanto, embriagados, em um lugar santo.

Entretanto, Moisés disse a seu irmão após este episódio: “Eles eram melhores do que tu e eu”. Estas palavras não foram fingidas, como para consolar um pai sofrido, pois sabemos ser proibido exagerar nas qualidades de um falecido. Elas foram ditas com sinceridade por Moisés, que sabia que a morte deles teve um importante cunho espiritual. Um fogo Divino absorveu suas almas. Só os justos morrem assim. Eles eram então, santos ou malvados?

Ocorre, explicam nossos sábios, que Nadáv e Avihú quando disseram:”Quando morrerão estes anciãos........”, estavam querendo dizer que necessitavam aprender deles todo o necessário, Torá, moral e ética, conselhos, etc. não lhes desejando a morte, porém se conscientizando que no futuro, eles seriam os lideres do povo de Israel e ao tomar vinho, a intenção do Midrash não era dizer que estavam bêbados, porém que teriam reflexos e pensamentos mais demorados, ou seja, quanto mais anos aprendessem com Moisés e Aarão, melhores líderes seriam para Israel.

Temos, outrossim, um ponto importante a considerar. O judaísmo dá especial ênfase à vontade da pessoa no cumprimento das mitsvot, porém isto não lhe concede autonomia ilimitada para gerar novos sistemas de normas e costumes dentro da religião. dAfastando-se das orientações recebidas, inovando-se onde não foi autorizado, pode-se perder de vista as diferenças entre a vontade de D’us e as vontades humanas, distanciando-se do conceito de como adorar ao Senhor, ficando perigosamente próximo da idolatria, onde o homem recebe e concebe ferramentas para adorar a si mesmo, fato inclusive muito apropriado para os nossos dias. Os filhos de Aarão eram Cohanim (sacerdotes) e isso os tornava responsáveis também pelo povo. Talvez esta condição sacerdotal tenha sido determinante para um castigo tão severo.

Aarão compreendeu bem o que aconteceu. Lemos em Vaikrá 10:3: “ E disse Moisés a Aarão: Isso é o que falou o Eterno dizendo: Por Meus escolhidos Me santificarei e perante todo o povo Eu serei glorificado. E calou-se Aarão.” Ensina-nos o Rabino Isaac Dichi shlita, citando o Maharal de Praga zt’l: o poder da fala é um poder físico (do corpo) e o raciocínio é um poder espiritual. Estes dois fatores antagônicos não podem trabalhar simultaneamente no indivíduo. O silêncio, portanto, é importante para evitarmos erros, uma vez que quando usamos a fala estamos, de certa forma, anulando o raciocínio.

E aí então, sabiamente, Aarão entendeu que o melhor que um homem pode fazer numa hora de sofrimento é recorrer ao silêncio. Não como conseqüência da falta de palavras para expressar a dor, mas um silêncio que confirme integralmente e sem questionamentos, a aceitação do veredicto do Eterno. É o que o triste episódio de Nadáv e Avihú nos leva a pensar.

SHABAT SHALOM UMEVORACH !

Isaac Dahan

Chazan / Shaliach Tsibur da Comunidade de Manaus

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