Peraxa " Vayetse" - Isaac Dahan

Jacob, temeroso com a propalada vingança que seu irmão Esaú lhe prometera após o episódio da disputada bênção pela primogenitura e, seguindo o conselho de sua mãe, parte de Beer Sheva e vai em direção a Haran, terra de seu tio Labão. Também concorreu para a escolha deste destino, a posição de seu pai que lhe orientou a não desposar, como Esaú já o fizera, uma mulher de Canaan e sim da parentela de sua mãe que era oriunda daquele lugar.

Jacob era considerado um Tsadik (homem justo), daí porque, explicam nossos sábios, o texto da Torá enfatizar a perda sofrida pela cidade de Beer Sheva (foi-se a sua glória, o seu brilho, o seu maior ornamento – Mishná Ialcut 117) e o grande crescimento alcançado por seu tio em Padan-Aram quando ali ele passou a residir.

Nesta viagem Jacob experimenta a sensação de seu primeiro sonho profético no qual lhe é mostrado que o aperfeiçoamento moral, ético e espiritual do ser humano pode fazer a ligação entre o terreno e o Divino (escada apoiada na terra cujo topo chegava aos céus, com os anjos de D’us subindo e descendo por ela). Ele, que tinha entre seus sonhos a constituição de uma família para dar continuidade à casa de seus pais Abraham e Isaac, foi abençoado a partir de então, com o mérito de ter em seus próprios descendentes as tribos que constituiriam o povo judeu, assim como o nome escolhido pelo Altíssimo, ISRAEL.

Inúmeras civilizações como o Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Roma, Grécia, etc. nas diferentes épocas da humanidade, chegaram ao ápice de sua grandeza, porém, desprovidas da base moral que a Torá nos ensina, sucumbiram com o passar do tempo, restando hoje apenas menções nos livros de História ao lado de alguns monumentos que lembram seu apogeu. O povo de Israel aí está, após quatro mil anos de existência, muitos dos quais longe de sua terra natal, jamais de afastou da Torá, sua verdadeira pátria espiritual, que lhe deu força e orientação para sobreviver às duras perseguições e vicissitudes pelas quais passou.

Em VAIETSÊ temos também uma das mais belas histórias de amor tanto no aspecto bíblico quanto na literatura romântica em geral. Jacob, ao chegar ao seu destino, se enamora de sua bela prima Rachel que pastoreava os rebanhos de seu pai. Um drama se desenrola e ele, fixado em seu sublime amor, seguidamente vai sendo enganado por seu sogro Labão, ao qual serve durante vinte e um anos para tê-la como esposa.

Encerramos este comentário semanal com os lindos versos que Luís Vaz de Camões, um dos maiores poetas da língua portuguesa dedicou a este idílico amor:

1)Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela;Mas não servia ao pai, servia a ela,Que a ela só por prêmio pretendia.

2)Os dias, na esperança de um só dia,Passava, contentando-se com vê-la;Porém o pai, usando de cautela,Em lugar de Raquel lhe dava Lia

3)Vendo o triste pastor que com enganosLhe fora assim negada a sua pastora,Como se a não tivesse merecida,

4)Começa de servir outros sete anos,Dizendo: Mais servira, se não foraPara tão longo amor tão curta a vida.”(in: SETE ANOS DE PASTOR JACOB SERVIA – Luis Vaz de Camões – Rimas – Lírica – 1595)

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Isaac DahanChazan / Shaliach Tsibur da Comunidade de Manaus

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