quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Peraxa " Vaishlach" - Isaac Dahan

Aproximava-se o momento, até certo ponto angustiante, em que Jacob deveria reencontrar seu irmão Esaú. Vinte anos de frustrações, raiva, ansiedade e mesmo uma dose de enigma separavam estes gêmeos. Qual a reação de cada um ao fim daquele traumático afastamento?
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Vimos que Jacob tomou várias medidas de segurança caso sua linha de frente repleta de presentes, boas intenções e um cuidadoso vocabulário endereçado a Esaú não surtissem efeito. Ele estava preparado para a paz completa, para um reencontro e convivência amigáveis ou até mesmo para lutar pela sua sobrevivência e de seus filhos, que colocava sempre em primeiro plano, pois várias vezes tinha sido advertido por D’us que daquelas crianças frutificaria a nação Israel na qual ele se transformara. Esta foi a tônica até nossos dias que vivenciamos como descendentes de Jacob em nossas relações com os povos, paz, convívio pacífico ou mesmo difícil, indo à guerra quando falhavam as primeiras opções, bem condizente com a vida que levou o mais atribulado e conturbado dos três patriarcas.

Jacob viveu marcado pelas constantes crises entre seus sonhos e a realidade. Desde seu nascimento enfrentou todo tipo de conflitos e dificuldades tanto internas quanto em sua relação com o mundo que o rodeava. Lutou com seu irmão no ventre materno, comprou sua primogenitura, participou do engodo engendrado por sua mãe para receber as bênçãos de Isaac, quando então se viu obrigado a fugir para Haran. Ali, trabalhou quatorze anos para Labão sendo enganado por ele dez vezes. Ao cabo de vinte anos se desvencilha de seu sogro e volta para Eretz Israel, passando a enfrentar o temor e a apreensão do futuro encontro com seu irmão Esaú. Sua filha Diná é violentada, seus filhos passam a odiar o jovem José que desaparece mais tarde e conclui descendo ao Egito, onde falece. Realmente uma vida digna de estudo e reflexão para tentar entender as reações dos homens frente às vicissitudes e agruras pelas quais passam, porém, antes de tudo, uma visão daquilo que nos esperava.

Voltando agora ao ápice do reencontro entre os irmãos, tema desta perashá, diríamos que foi proveitoso, não houve vingança ou rancores exteriorizados. Entretanto, ensinam nossos mestres, que na ocasião em que Esaú beijou a Jacob, a palavra “Vaishakehu” (e beijou-o) no texto hebraico da Torá, é marcada com alguns pontinhos sobre ela, simbolizando a falta de sinceridade deste beijo. Outra explicação já alegórica neste episódio, conta que ao lançar-se sobre o pescoço de Jacob para um “forte abraço”, Esaú na realidade queria mordê-lo e o Eterno endureceu então o pescoço de Jacob, protegendo-o, que chorou com o inesperado e doloroso “torcicolo”, vindo Esaú também a chorar com a tremenda dor de dentes advinda de uma dentada numa superfície dura. Este seria o motivo do choro de ambos.

Alegorias à parte, este relato, assim como outros que nos são ensinados (Adão/Eva, Caim/Abel, etc.), representam de certa forma a relação da alma com o corpo e, como tal, do homem com o mundo. Jacob, apesar de viver por duas décadas longe do lugar onde nasceu, cresceu e estudou, não se afastou dos princípios espirituais de sua origem. Esaú, por sua vez, prosseguiu no seu estilo de vida estritamente material.

Entendemos que a alma não pode viver sem o corpo e a maneira correta de servir a D’us é fazer com que a matéria (corpo) compartilhe do sublime sentimento que a união de ambos possa oferecer. Jacob (espírito) foi ao encontro de Esaú (matéria) para juntos experimentarem este êxtase.

A missão do homem nesta vida não é absolutamente afastar-se do mundo e privar-se do que ele oferece, porém fazer com que os valores espirituais possam elevar a matéria a um plano superior, dotando-a da energia necessária a uma aliança perfeita.

SHABAT SHALOM UMEVORACH !
Isaac Dahan
Chazan / Shaliach Tsibur da Comunidade de Manaus

Comitê Israelita do Amazonas,Rua Leonardo Malcher, 630 - CentroCEP 69010-170 Manaus AM Fone: (92) 3233 6361 Fax: (92) 3234 9558 e-mail: ciam@argo.com.br

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