Peraxa " Tetsave" - Isaac Dahan

Nesta perashá notamos um fato inusitado sobre o qual vamos tentar explicar as razões encontradas para tal ocorrência. Desde o relato do nascimento de Moisés ((perashá Shemot) até o seu falecimento (Vezot Haberachá – Sefer Devarim), esta é a única porção semanal na qual o seu nome não é citado nenhuma vez. Explicam nossos sábios que aqui é feita a indicação para Aarão ser o COHEN GADOL (Sumo Sacerdote) e seus filhos, COHANIM (Sacerdotes), assim como sua semente, para sempre. Aí então já começaram os problemas. Korach e seus seguidores, que mais tarde iriam protagonizar uma grande machloket (discórdia) entre o povo, contra Moisés e Aarão, já neste início organizacional de Israel, refutaram esta escolha, dizendo que Moisés os apontou por sua própria vontade, sem a ordem de D’us. Levando-se em conta esta situação, em Tetsavê não aparece o nome de Moisés, comprovando que foi uma ordem inteiramente Divina.

Outra explicação nos leva ao episódio do bezerro de ouro. Após aquele nefasto pecado, o Eterno quis exterminar o povo de Israel e Moisés, imbuído de um profundo sentimento de responsabilidade quanto ao destino de seus irmãos, implorou por eles, defendendo-os, tentando anular o mau decreto. Ele chegou a dizer em sua firme petição a D’us: “apague meu nome de Seu Livro”, correndo o risco inclusive de não ser mencionado na Torá, que é o lugar mais importante, sagrado e eterno. Quanto desprendimento e renúncia por amor a seu povo. Cabe aqui lembrar a afirmação de Rabi Shimon Bar Yochai ZY’A, o autor do Zohar, livro básico da Cabala, mais de mil anos depois: “COL ISRAEL AREVIM ZÊ LAZÊ” – todo israelita é responsável um pelo outro.

O Gaon de Vilna Z’L. por sua vez, citando o calendário judaico, comenta que esta perashá é lida nas Sinagogas em torno da primeira metade do mês de Adar, data do desaparecimento de Moisés (7 de Adar), de acordo com a Tradição Oral, daí não figurar nela o seu nome.

Alguns comentaristas indicam, outrossim, que em Tetsavê Moisés deu total prioridade a seu irmão Aarão que seria o primeiro COHEN seguido por seus filhos, assim como à confecção de seus trajes, ficando claro que a função sacerdotal seria distinta da autoridade de Moisés, cujos limites eram determinados pela Revelação Divina – Profecia. A Moisés coube ensinar e introduzir Aarão e seus filhos neste trabalho sacerdotal, ficando ele, Moisés, como mechokek – legislador, cargo mais tarde conferido na história de Israel ao presidente do Sanhedrin (Grande Tribunal Rabínico).

Inferimos então, que a Keter Torá(Coroa da Torá) atribuída a Moisés, é superior à Keter Avodá (Coroa do Culto). Esta, também conhecida como Coroa do Sacerdócio é limitada a Aarão e transmitida por herança aos seus descendentes. Já a Keter Torá é acessível a todos que a abraçarem, sem diferenças de origem, linhagem, família ou vestuário (esta perashá detalha também a vestimenta dos Cohanim). Porém, para isso, é imprescindível observarmos o contido no Pirkê Avot II-17: “Estuda a Lei Divina, pois o seu conhecimento não se adquire por herança”. Sem dedicação, mesmo tendo antepassados eruditos na Torá, não será possível herdar esse conhecimento. O mérito é sempre pessoal e intransferível.

Saibamos, portanto, colocar ordem em nossas vidas, merecer a luz espiritual, as boas e adequadas qualidades nos lugares corretos, no tempo e na forma perfeita, alcançando assim o verdadeiro sentimento da sagrada Coroa. E ainda mais, pautando nossas ações, aprenderemos que entre as Coroas da Lei Divina, do Sacerdócio e da Realeza, a Coroa do Bom Nome (Keter Shem Tov), que possamos conquistar na passagem por esta vida terrena, supera a todas elas. (Pirkê Avot IV-17). Rashi explica que este bom nome não se trata de uma quarta coroa, porém um diadema obtido a partir de qualquer das outras três, uma espécie de supercoroa aos olhos do Altíssimo.

SHABAT SHALOM UMEVORACH !

Isaac Dahan

Chazan / Shaliach Tsibur da Comunidade de Manaus


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