Iniciamos neste Sábado a leitura do SEFER VAIKRÁ ( e chamou, em hebraico), conhecido na Versão dos Setenta como Levítico, o que até certo ponto não traduz exatamente o seu conteúdo, pois pouco faz menção aos Leviim (Levitas), abordando principalmente os Cohanim (Sacerdotes), sendo por este motivo chamado nos tratados talmúdicos de Sefer Torat Cohanim (Livro da Lei dos Sacerdotes). Talvez por Aarão e seus filhos pertencerem à tribo de Levi, este Sefer passou a ser denominado nos meios não judaicos de Levítico.
Nesta primeira perashá encontramos normas detalhadas sobre os sacrifícios e suas categorias, adoração a D’us, agradecer Suas bondades, perdão por faltas cometidas voluntária ou involuntariamente, etc. Não se trata apenas do aspecto material destas oferendas e sim, principalmente, sob o ponto de vista moral, incutir tanto nos sacerdotes quanto no povo a necessidade de pautarem suas vidas no caminho da pureza espiritual, já que a palavra Korban (sacrifício, em hebraico) deriva de Lehakriv (chegar perto, aproximar-se), fazendo alusão que desta forma, livres de escórias morais, torna-se mais factível aproximarmo-nos de D’us.
Faz-se necessário que a oferenda seja da própria pessoa e não se utilizando de coisas que não lhe pertençam de fato ou que estejam sobrando, refletindo-se então como se o indivíduo esteja tirando algo de si próprio para doação, de acordo com o contido em Lev. 1:2 “Adam ki iakriv mikem korban L’Ad-nai” (uma pessoa – de vós mesmos – quando trouxer um sacrifício ante Ad-nai). Seria como se ele próprio fosse oferecido ao altar.
É importante registrarmos as discussões rabínicas sobre o mandamento dos sacrifícios. Vários profetas, entre eles Samuel, Amós, Oséias, Isaias, Miquéias, Jeremias assim como o Rei David e o grande legislador Maimônides, entre outros, além de opinarem que os sacrifícios animais foram ordenados não pelo seu valor intrínseco, mas como um meio de afastar os israelitas do culto a ídolos e sacrifícios humanos praticados pelas nações que os rodeavam, proclamavam que não eram os sacrifícios que D’us desejava, mas o conhecimento de D’us “pois misericórdia quero e não sacrifício; e o conhecimento de D’us mais do que ofertas de elevação”(Oséias 6:6).
Nachmânides (1194-1270) e outros rejeitavam estes argumentos, afirmando que o alvo básico do sacrifício não era o sentido negativo, para evitar a idolatria, mas sim, despertar, pelo sacrifício oferecido, sentimentos de remorso pelo mal praticado e avivar a responsabilidade que cada ser humano deve ter perante D’us e a sociedade. Rabi Ibn Pakuda, autor da grande obra filosófica Doutrina dos Deveres dos Corações, complementa dizendo que entre estes sacrifícios tinham aqueles cujo objetivo era perdoar antes de qualquer coisa os maus impulsos do coração e os perversos pensamentos. Enquanto o homem não for capaz de reprimir os seus maus impulsos nem de conter seus pensamentos desprezíveis, todos os seus sacrifícios materiais serão considerados aos olhos do Eterno como uma blasfêmia (Rabi M. Diesendruck Z’L em A Lei de Moisés – Editora Sefer). O sacrifício, portanto, pode ser entendido como mais necessário para os homens do que para D’us.
Também se torna essencial e até hoje é aplicado quando se faz uma oferenda, que a pessoa deve ter seu coração e olhos voltados para os céus. Quer dizer, D’us não quer de nós quantidade, apenas que doemos em função do que recebemos d’Ele e que no momento de dar, façamos com boa vontade, alegria, amor e grande kavaná (intenção). O requisito principal citado na TORÁ é: “Nedivat Halev (uma doação vinda do coração)”. Desta forma vemos que o que interessa ao Altíssimo, voltamos a frisar, é uma doação vinda do coração, não importando a quantidade, mas a qualidade espiritual que está imbuído o doador.
SHABAT SHALOM UMEVORACH !
Isaac Dahan
Chazan / Shaliach Tsibur da Comunidade de Manaus
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